Doenças da pobreza matam 226 brasileiros por dia
Mais de 82 mil mortes são causadas por males como diarréia, desnutrição, malária, tuberculose e dengue
SÃO PAULO - As doenças da pobreza e o abandono matam 226 brasileiros por dia. São pelo menos 82,5 mil mortes por ano causadas por males como diarréia, desnutrição, malária, tuberculose, dengue, febre amarela e falta de assistência médica. Este número, extraído pelo Globo do banco de dados do Ministério da Saúde, é maior que o total de homicídios e de mortes em acidentes de trânsito registradas em 2005 (cerca de 77.500). Toda morte que poderia ser evitada causa indignação.
Não podemos classificar isso como aceitável. Assim como nos acidentes de trânsito, em que faltam fiscalização e melhores estradas, nas mortes evitáveis falta mais ação do estado", afirma o coordenador de Planejamento em Saúde do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Nicanor Rodrigues da Silva Pinto.
O Globo fez um levantamento junto à base de dados do Ministério da Saúde, considerando a Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Foram somadas as mortes dos itens "algumas doenças infecciosas e parasitárias" (à exceção da AIDS e da septicemia) e a desnutrição. Esse grupo de males infecciosos e a desnutrição são as chamadas doenças da pobreza, com média anual de 33,5 mil mortes. A este número, somou-se o item "morte sem assistência médica", com cerca de 49 mil óbitos registrados em 2005. Só de diarréia e infecções intestinais morreram, em 2005, por exemplo, 10.599 pessoas. A desnutrição, sozinha, matou 6,9 mil brasileiros. A tuberculose, embora seja curável e tenha um custo de tratamento de R$70 (quando tratada no início e sem internação), causou mais de 4,7 mil mortes.
Em 2005, até a poliomielite aguda reapareceu, matando três pessoas. Silva Pinto, no entanto, estima que a pobreza e a fome causem efeitos muito maiores na mortalidade nacional (1.006.827 mortes em 2005, último ano de dados registrados pelo Data SUS, do Ministério da Saúde). Além das doenças da pobreza, há a perversidade da pobreza, como nos casos de pneumonia, em que morreram 35.903 pessoas." Assim como na infecção intestinal, na pneumonia também tem uma bactéria, e é "comum" morrer uma criança ou um idoso, uma pessoa mais fraca. Na grande maioria dos casos, o sistema imunológico está comprometido pela falta de comida, pela pobreza. O principal fator de baixa imunidade é a fome".
Para Silva Pinto, o estado de fragilidade do organismo das pessoas com fome ou mal-alimentadas as expõe a maiores riscos, e a falta de acesso aos serviços de saúde limita as possibilidades de cura. A falta de saneamento, informação e escolaridade cria o ambiente perverso da proliferação das doenças."Dessas 49 mil mortes sem atendimento médico, 43 mil ocorreram em casa, certo? Quantas dessas pessoas não tiveram como chegar a um serviço de saúde porque não tinham acesso? A maior parte, podemos conferir, ocorreu no Nordeste do país. Cerca de 23,6 mil mortes sem atendimento médico ocorreram em casas do Nordeste, sendo 10.717 na Bahia, fora da região metropolitana de Salvador." (AG)
Correio da Bahia
Fev/08
domingo, 30 de março de 2008
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