quarta-feira, 20 de agosto de 2008

JUVENTUDE E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL



O jovem é um ator social


Segundo o IBGE, em 2006, os jovens eram 27% da população, ou 51 milhões de pessoas. Mas 91% dos jovens são pobres – 31% com renda familiar per capita até meio salário mínimo, e 60%, entre meio e dois salários. E eles próprios apontam o trabalho e a educação como suas principais preocupações. “Metade do desemprego atual é de jovens”, diz Jorge Abrahão de Castro, autor, com a pesquisadora Luseni Aquino, do estudo “Juventude e Políticas Sociais no Brasil”, publicado, em abril, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).“Precisamos ter uma política econômica que dê perspectiva de crescimento com geração de emprego. Não podemos pensar em crescimento que não tenha geração de emprego”, diz Jorge Abrahão, que também é diretor de estudos so­ciais do Ipea. E detalha: “Uma política que possibilite, através da ação do Estado, oportunidade de expansão das pequenas e médias empresas, uma política para o setor de serviços, uma área em que o jovem poderia entrar muito bem”.

O pesquisador do Ipea aposta em ações objetivas, como bolsas e outras estratégias não-tradicionais, para fazer o jovem voltar à escola e se qualificar no mundo do trabalho de forma consistente e moderna, considerando as tecnologias digitais. Porque, embora tenha havido incremento do emprego formal nos últimos anos, a razão do desemprego juvenil/adulto cresceu 3,5, e na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad/IBGE), de 2005, os jovens (de 15 a 29 anos) representavam 46% do total de desempregados.

Outra medida importante, na opinião de Jorge Abrahão, é uma coordenação política que perpasse as iniciativas das várias instituições. “No caso da juventude, é necessária uma ação específica, e que recorte as demais instituições. É preciso uma coordenação de política, para poder maximizar a ação do governo.” Nesse sentido, ele acredita que o jovem entrou de fato na agenda das políticas públicas. Especialmente a partir da estruturação de uma Política Nacional de Juventude no país: a criação, em 2005, pelo governo federal, da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), apoiada pelo Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), para implementar o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem
16 de Junho de 2008

Fonte: http://www.arede.inf.br/ Lia Ribeiro Dias


A Rede • A juventude está sendo considerada, pela equipe que fez o estudo do Ipea, não mais como só uma etapa transitória, da infância para a fase adulta. Você poderia explicar o que é esse conceito e por que ele é importante para a definição das políticas públicas


Jorge Abrahão de Castro • Não é uma posição só nossa [do Ipea]. Pesquisadores que trabalham no Brasil inteiro já entendem a juventude como uma fase de per se e não mais como aquela etapa problemática ou preparatória para a vida adulta. Problemática por ser a fase da juventude em contato com riscos, em que a família precisa proteger o jovem, atuar; já a preparatória é a transição para o mundo adulto. Isso vale muito mais para a classe média, porque, para a juventude pobre, o período preparatório é muito curto.O que seria o preparatório? A fase em que a juventude estaria na escola. Depois, encontra trabalho e, dali em diante, tem possibilidade de moradia, encontra um relacionamento puro, constrói uma família e entra para o mundo adulto.

No passado, era uma fase curtinha; com 23, 24 anos, as pessoas já estavam casadas, morando fora da casa dos pais, com trabalho e logo com um filho. Hoje, essa fase está avançando. Na juventude de hoje, você percebe que o período entre a vida adulta e a adolescência está se esticando e se ampliando, pois se passa mais tempo na escola. O jovem está virando adulto depois dos 27, 28 anos.De novo, isso vale muito mais para a classe média. O jovem pobre ainda tem muita dificuldade de chegar à universidade. Esse período, o jovem de classe média até consegue que ele seja muito frutífero, fazendo sua preparação universitária ou sua pós-graduação. Assim, no momento em que o jovem está se preparando, que está nessa moratória social, ele não deixou de ser um ator social. Tem uma vida sexual normal, tem um conjunto de ações próprias e, apesar de não estar ainda no mercado de trabalho, não quer dizer que não tenha uma vida plena enquanto jovem. E, ao ter essa vida plena, é um ator so­cial que merece ser olhado não como quem está em uma fase crítica, mas sim como um indivíduo portador de necessidades e possibilidades.

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